Em época de crise, o que é supérfluo para você?
Ok… Eu já sei. A situação econômica do Brasil vai de mal a pior. Os especialistas nos lembram todos os dias que, não importa a profissão ou estado civil, a economia em queda e as altas taxas de inflação vão atingir em cheio o bolso dos brasileiros.
Tempos de crise? Certamente, esta será apenas mais uma entre tantas outras que já vimos atingir e causar fortes solavancos na economia brasileira. Por aqui, não há processo contínuo de crescimento. Somente um eterno movimento cíclico de altos e baixos, tempestades e bonanças que deixam qualquer chefe de família de cabelo em pé diante do orçamento familiar. Enfim, em tempos difíceis, é chegada a hora de apertar os cintos. Não tem jeito.
E aí? Como passaremos de um modelo econômico focado no estímulo ao aumento do consumo das famílias para o momento atual, em que o mandamento é segurar a onda? Pararemos todos de comprar? Afinal, segundo os economistas, até segunda ordem, a regra é comprar só aquilo de que se precisa. Grande dilema. É nesse momento que a distinção clássica entre o necessário e o supérfluo volta a acompanhar todos os consumidores durante seu processo de compra, seja numa loja na R. 25 de março, em São Paulo, seja no corredor de um shopping de luxo.
Mas, afinal, como definimos o que é supérfluo e o que é necessário? Questão difícil e com muitas possibilidades de resposta. Não é preciso grande esforço para perceber que os produtos e serviços de que abrimos mão, ou não, variam de pessoa para pessoa. O que é essencial para mim pode ser uma besteira para minha mulher, e vice-versa. Esse fato não se resume ao gosto individual ou ao conjunto de preferências pessoais de cada um. Classe, idade, gênero, trajetória social e posição social são variantes determinantes nossa escala de desejos de consumo e na hierarquização do que é necessário ou supérfluo.
Nossas escolhas estão imbricadas no jogo social do qual participamos. Inclusive, a construção da escala de valores que atribuímos a qualquer produto ou serviço. O que é essencial ou supérfluo em nosso mundo é fruto de um intensa negociação das nossas vontades com o grupo do qual fazemos parte. Afinal, necessário é tudo aquilo que não precisamos de justificativa social para consumir. Já supérfluos são aqueles itens que nos cobram sempre uma explicação. Água é item necessário ou supérfluo? E água Perrier?
Na pesquisa que realizei com os ricos de São Paulo, ouvi, por diversas vezes, que a crise hídrica enfrentada pela cidade lhes obrigou a mudar alguns hábitos. Para eles, foi-se o tempo em que a preocupação básica dos consumidores estava em descobrir se a água era potável ou não. Agora, a elite paulista queria mais. Só bebia água com sobrenome. Para adultos e crianças, água Perrier; para os animais domésticos, água Prata – com PH alcalino e ótima para o organismo.
Diante do meu espanto, escutei a seguinte afirmação: "Ué, meu filho. Isso é o básico, disso a gente aqui em casa não abre mão. É o mínimo." Os amigos presentes, todos da mesma classe social, concordaram com a minha interlocutora de pesquisa. Aquilo era só o mínimo.
A régua dos outros pode ser muito diferente da sua.
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